sexta-feira, 7 de setembro de 2012
O menino e a bola
O menino e a bola
Essa semana vivi uma cena curiosa enquanto trabalhava com a pré-escola uma turma com crianças de 5 e 6 anos. Faltavam poucos minutos para terminar a aula de Educação Física e um menino continuava de cabisbaixo apesar de alguns esforços de alguns amigos para animá-lo. Aí fui até ele e perguntei o que havia acontecido ele me respondeu “é a minha bola professor ela ta murcha”. Eu perguntei onde estava a sua bola e ele me trouxe. Enquanto enchia a bola vi brotar no rosto do menino a alegria novamente, os olhos brilharam e enfim ele sorriu e se foi correndo atrás da sua bola.
A primeira grande paixão de um menino é a bola. É impressionante o fascínio que esse ser esférico, cheio de manias e vontades exerce sobre os meninos. Alguns são abalados ou afetados pela pelota de couro ainda muito cedo iniciam essa relação logo após os primeiros passos. Para outros a coisa acontece mais tarde. Mas sem duvida todo menino, aqui no Brasil pelo menos, que teve ou terá uma infância sadia, vai ter uma relação de no mínimo admiração pela bola.
Vivi minha infância numa cidade onde se tinha grandes espaços de lazer e não tinha violência. Em frente à casa dos meus pais era possível vivenciar verdadeiras batalhas campais pela a atenção da pelota. Bola é ser caprichoso, como já disse, cheia de manias. Foi lá no campinho de terra que descobri que nem todos serão agraciados com o dom de ter o amor correspondido pela bola. É isso que difere os craques de nós reles mortais. Nos pés deles a bola corre solta, tranquila, macia, seguindo cada comando do craque. Com uma perna de pau como eu, não. A bola é impiedosa bate na canela e sai pra fora. Quando se tenta chutar num canto, ela vai para o outro.
Entretanto, essa relação não se resolve assim de maneira fácil, passam se anos cortejando a bola. Experiências magníficas que forjam o caráter de um menino. Nos campinhos de terra, vivíamos como heróis ou vilões dependendo do desempenho com a gorducha. Por vezes quando se encerravam os argumentos de uma contenda, entravamos em vias de fato para no instante seguinte continuarmos a disputa pela bola. Não era preciso muito para acontecer o espetáculo, se jogava descalço no máximo com um kichute ( um tênis preto com garras de borracha que os meninos usavam para tudo desde jogar bola até ir na missa). Uniforme? Nada. Quem levava o primeiro gol tirava a camisa e fim de papo. Os gordinhos ou os magrelos sabiam que seriam crucificados pelo seu porte físico fora dos padrões(na época não existia bullyng) mas mesmo assim enfrentavam o desafio. As traves podiam ser qualquer coisa desde chinelos até troncos de arvore. Não precisávamos da supervisão de um adulto, se definia as regras e a pelota rolava.
O surpreendente dessa relação que mesmo não correspondido pela bola alguns insistem nesse amor. Estes se tornam zagueiros,torcedores enfurecidos, técnicos de futebol e principalmente comentaristas de TV.
Tem aqueles que negam essa paixão e vão tentar a sorte em outro esporte.
Tudo isso para lembrar a vocês que por mais que exista a violência, por mais que exista horário eleitoral, por mais que praticamente não existam mais espaços de lazer nas cidades, por mais trágico seja o cenário em que vivemos, enquanto houver um menino feliz correndo atrás da sua bola, ainda existe esperança.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Voltando em 2012
Depois de um tempo sem postar num verdadeiro lapso criativo volto a escrever algumas linhas ... Para o deleite dos amigos seguidores, publico um poema que muitos acham se tratar de Maiakóvski (o poeta russo) ou de Bertold Brech (o dramaturgo alemão) porém para a minha grata surpresa descobri hoje que a autoria é de um poeta brasileiro Eduardo Alves da Costa
No caminho com Maiakóvski
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"
No caminho com Maiakóvski
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"
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